Como os ramos
III Domingo Páscoa
Mais uma vez, neste terceiro Domingo da Páscoa, o Evangelho parece que vem de propósito para nós, que estamos a viver este tempo de incerteza e angústia, devido à ameaça deste novo coronavírus, que nos faz viver em distanciamento ou até em isolamento social. Com um discípulo, do qual não sabemos o nome, podemos colocar-nos todos nós ali, a caminho da nossa “vidinha” de sempre, sem esperança e sem ilusões, deixando para trás os nossos sonhos de uma vida “maior”. Mesmo julgando-nos dentro da comunidade dos que acreditam em Jesus e na Sua Ressurreição, vivemos, muitas vezes, completamente à margem do seu sentir e agir, mergulhados nos nossos fracassos e desilusões ou preferindo uma vida sem grandes exigências e compromissos. Mas prestemos atenção ao Evangelho desta semana(Lc24, 13-35):
Dois dos discípulos de Jesus
iam a caminho duma povoação chamada Emaús,
que ficava a duas léguas de Jerusalém.
Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido.
Enquanto falavam e discutiam,
Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho.
Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem.
Ele perguntou-lhes.
«Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?».
Pararam, com ar muito triste,
e um deles, chamado Cléofas, respondeu:
«Tu és o único habitante de Jerusalém
a ignorar o que lá se passou nestes dias».
E Ele perguntou: «Que foi?».
Responderam-Lhe:
«O que se refere a Jesus de Nazaré,
profeta poderoso em obras e palavras
diante de Deus e de todo o povo;
e como os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes
O entregaram para ser condenado à morte e crucificado.
Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel.
Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu.
É verdade que algumas mulheres do nosso grupo
nos sobressaltaram:
foram de madrugada ao sepulcro,
não encontraram o corpo de Jesus
e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns Anjos
a anunciar que Ele estava vivo.
Alguns dos nossos foram ao sepulcro
e encontraram tudo como as mulheres tinham dito.
Mas a Ele não O viram».
Então Jesus disse-lhes:
«Homens sem inteligência e lentos de espírito
para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram!
Não tinha o Messias de sofrer tudo isso
para entrar na sua glória?».
Depois, começando por Moisés
e passando pelos Profetas,
explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito.
Ao chegarem perto da povoação para onde iam,
Jesus fez menção de ir para diante.
Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo:
«Ficai connosco, porque o dia está a terminar
e vem caindo a noite».
Jesus entrou e ficou com eles.
E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção,
partiu-o e entregou-lho.
Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O.
Mas Ele desapareceu da sua presença.
Disseram então um para o outro:
«Não ardia cá dentro o nosso coração,
quando Ele nos falava pelo caminho
e nos explicava as Escrituras?».
Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém
e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles,
que diziam:
«Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão».
E eles contaram o que tinha acontecido no caminho
e como O tinham reconhecido ao partir o pão.
Procuremos algumas pistas de reflexão a partir deste Evangelho, colocando-nos nós ali, com Cléofas, a caminho de Emaús:
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Apesar da tristeza e da desolação, estes dois homens não iam mudos, pois partilhavam e discutiam entre si o que ambos tinham vivido a partir do momento que conheceram Jesus e O seguiram até Jerusalém, onde foi condenado à morte de cruz, algo que eles não esperavam! Somos capazes de dialogar com os outros acerca daquilo que sentimos dentro de nós? Tenho disponibilidade para ouvir o(s) outro(s)?...
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Jesus coloca-Se com eles a caminho… Não O reconhecem porque o seu olhar está turvo pelo desânimo e a falta de fé! Será que eu sou capaz de ver Jesus a meu lado nas horas mais difíceis da minha vida? Conto-lhe, abertamente, aquilo que sinto? Deixo que Ele me acompanhe ao longo do meu caminho?
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Ainda que tenham tido conhecimento do sepulcro vazio e da notícia da Ressurreição de Jesus, eles abandonaram Jerusalém porque, para eles, o que era incompreensível era a Cruz! Não se pode conhecer verdadeiramente Jesus, sem aceitar a Cruz: Ele veio para nos salvar e, para isso, teve de passar pela Cruz, como prova do Seu Amor e da Sua Entrega por nós até ao fim! O Ressuscitado é o Crucificado! Para seguir Jesus é necessário aceitar também esse caminho. Será que estou preparado para O seguir de verdade?
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Aliás, a explicação das Escrituras que Jesus lhes oferece, e que lhes faz arder o coração, fala precisamente dessa entrega e desse sofrimento de Jesus. A Palavra de Deus, temos de a ler a partir de Jesus, e deve ser ela a iluminar a nossa vida! Que importância dou à Palavra de Deus na minha vida?
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É na fração do pão que os discípulos de Emaús reconhecem Jesus! A Eucaristia é, precisamente, memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, ponto de encontro do Ressuscitado com a comunidade dos Seus discípulos. Sou assíduo a esse encontro? Sinto a presença do Ressuscitado e deixo que Ele me acompanhe no meu dia-a-dia?
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Finalmente, reconhecida a presença de Jesus, eles partem imediatamente a anunciar aos outros irmãos a Alegria que lhes invadia o coração. Dou testemunho de Jesus no meu quotidiano? Vivo com alegria e confiança porque sei que Ele está sempre comigo?
Fica connosco Jesus, para que a noite e o medo não nos dominem, e consigamos viver em paz, à Tua Luz, levando a Alegria e a Esperança a todos os nossos irmãos!
